A jornada de trabalho no Brasil está no centro de um intenso debate. Uma proposta de emenda constitucional (PEC) da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) que busca abolir a escala 6×1 recebeu forte apoio popular.
Segundo uma pesquisa Datafolha divulgada recentemente, 64% dos brasileiros defendem o fim dessa forma de jornada de trabalho, enquanto 33% se posicionam contra.
Esse levantamento revelou diferentes percepções sobre o tema, com variações de acordo com gênero, idade e renda. Entenda os detalhes dessa discussão e os impactos dessa possível mudança.
O que é a escala 6×1 e por que ela está sendo questionada?
A escala 6×1 é um modelo de jornada de trabalho que exige que o trabalhador atue por seis dias consecutivos e descanse um dia. Apesar de ser amplamente utilizado em setores como comércio, indústria e serviços, esse formato tem sido alvo de críticas. Muitos argumentam que a escala é desgastante e prejudica o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
De acordo com o Datafolha, 70% dos entrevistados preferem trabalhar cinco dias por semana, indicando que a escala 6×1 já não reflete as necessidades da maioria dos brasileiros.
Além disso, a carga horária semanal de 44 horas também foi questionada, com muitos defendendo jornadas mais curtas. Esse movimento acompanha uma tendência global de busca por melhores condições de trabalho e maior bem-estar.
Perfil dos apoiadores e dos críticos
Gênero e idade influenciam as opiniões
O apoio ao fim da escala 6×1 é mais expressivo entre as mulheres: 70% delas defendem a mudança, enquanto entre os homens o índice cai para 60%. Esse dado reflete, em parte, a maior sobrecarga que muitas mulheres enfrentam ao conciliar trabalho, tarefas domésticas e cuidados com a família.
A pesquisa também revelou um contraste significativo entre gerações. Enquanto 81% dos jovens de 16 a 24 anos apoiam a redução da jornada, apenas 52% dos entrevistados com 60 anos ou mais concordam com a mudança.
Essa diferença pode estar relacionada à adaptação das gerações mais jovens às novas dinâmicas de trabalho, que valorizam mais a qualidade de vida do que apenas a estabilidade no emprego.
Renda e cor também influenciam
A renda familiar é outro fator determinante na divisão de opiniões. Entre os que ganham até dois salários mínimos, 68% são favoráveis à redução da jornada. No entanto, entre os que recebem mais de cinco salários mínimos, 43% são contra a mudança.
Isso indica que pessoas com menor poder aquisitivo percebem na redução da carga horária uma possibilidade de maior equilíbrio e alívio no desgaste físico.
Quando analisado por cor/raça, os índices também variam. Entre os entrevistados que se declaram pretos e pardos, o apoio à mudança chega a 72% e 66%, respectivamente, enquanto 59% dos brancos são favoráveis.
Esses números refletem desigualdades no mercado de trabalho, onde as condições de trabalho mais precárias afetam desproporcionalmente pessoas negras.
A jornada de trabalho ideal: o que dizem os brasileiros?
A maioria dos brasileiros parece ter uma visão clara sobre a jornada ideal. De acordo com a pesquisa:
- 70% preferem trabalhar cinco dias por semana.
- Apenas 17% mencionaram seis dias como o formato ideal.
- Para 82% dos entrevistados, a carga horária de oito horas por dia é a melhor opção.
Esse padrão, que difere do modelo tradicional de seis dias com até 44 horas semanais, reflete o desejo de uma maior flexibilização no trabalho. Além disso, essa mudança é vista como necessária para acompanhar as transformações sociais e econômicas em um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico.